Revolução em bisturi: caneta brasileira identifica câncer em segundos durante cirurgias

Uma inovação desenvolvida por uma pesquisadora brasileira promete redefinir o que entendemos por diagnóstico intra-operatório. A química brasileira Lívia Schiavinato Eberlin criou uma ferramenta capaz de diferenciar em apenas segundos se um tecido é saudável ou cancerígeno — um avanço significativo que pode significar maior precisão, menos tempo de operação e risco reduzido ao paciente.

Batizado de MasSpec Pen, o dispositivo segue um princípio engenhoso: durante a cirurgia, o cirurgião aproxima a ponta da caneta do tecido em suspeita. Em seguida, uma microgota de água estéril extrai moléculas do local, que são imediatamente encaminhadas a um espectrômetro de massa. Esse equipamento identifica a “assinatura química” do tecido em questão e, em poucos segundos, informa se ele é cancerígeno ou não — tudo isso sem danificar o material ou exigir remoção para análise posterior.

Na prática, a MasSpec Pen permite que decisões cruciais sejam tomadas quase que em tempo real. Até então, o padrão-ouro exigia leitura laboratorial de partícula retirada do tecido, técnica que pode levar entre 20 minutos e mais de uma hora. Nesse intervalo, o paciente permanece anestesiado, e a equipe cirúrgica aguarda o laudo antes de prosseguir. Com a nova caneta, essa espera se reduz a meros segundos — o que pode aumentar consideravelmente a segurança, agilidade e eficácia do procedimento.

A pesquisadora, natural de Campinas (SP), conta que o impulso surgiu ao considerar uma realidade cirúrgica: determinar até onde deve ir o bisturi é uma das etapas mais complexas em operações oncológicas. Retirar pouco pode deixar células malignas; retirar demais pode comprometer funções vitais. Ao trazer à mesa uma tecnologia que dá resposta imediata, Eberlin e sua equipe oferecem uma ferramenta de precisão inédita.

A tecnologia já está em fase de testes clínicos em um hospital de referência no Brasil, marcando o primeiro estudo fora dos Estados Unidos que avalia a aplicação da ferramenta na prática médica brasileira. O foco inicial inclui tumores de pulmão e tireoide — opções escolhidas pela sua acessibilidade cirúrgica e maturidade dos algoritmos envolvidos —, mas o plano é expandir para outros tipos como mama, fígado e ovário.

Além disso, a equipe de Eberlin estuda uma aplicação ainda mais ambiciosa: usar a caneta para avaliar o perfil imunológico do tumor durante a cirurgia. Ou seja, além de identificar se há câncer, a tecnologia também poderia indicar se o tumor está “quente” — com alta atividade de células de defesa — ou “frio”, mais resistente ao sistema imunológico. Essa informação, colhida no momento da operação, abriria caminho para decisões terapêuticas imediatas e estratégicas.

O desenvolvimento da MasSpec Pen representa um salto que vai além da inovação tecnológica — ele simboliza o protagonismo da ciência brasileira no cenário internacional. A pesquisadora destaca que sempre buscou trazer a tecnologia para o Brasil e acredita que essa iniciativa comprova que poder inovar é compatível com a excelência científica nacional.

À medida que a transformação avança, o que está em jogo não é apenas tempo ou custo: é uma nova forma de pensar a cirurgia oncológica, onde o bisturi vai acompanhado de dados instantâneos, alta precisão e menos risco humano. Para pacientes, médicos e pesquisadores, essa caneta pode marcar o ponto de virada entre esperar e agir — entre incerteza e decisão.

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