Susana Vieira expõe corte salarial da Globo e provoca debate sobre valor da TV clássica

Susana Vieira, uma das grandes rainhas da dramaturgia brasileira e figura histórica da TV Globo, causou burburinho ao admitir que seus ganhos com a emissora despencaram. Em vídeo divulgado nas redes sociais durante um encontro com um fã, a atriz relembrou um meme antigo — no qual fazia piada com o valor pago por cuidar de seu cabelo — e fez um comentário revelador sobre sua remuneração atual. “O salário da Globo era aqui”, disse, gesticulando com a mão elevada; “mas … deu uma grande diminuída”.

Apesar do tom bem-humorado, a declaração trouxe à tona um tema delicado: o enfraquecimento da antiga estrutura de contratos fixos na televisão aberta. A artista, que ainda mantém um contrato vitalício com a casa — situação cada vez mais rara com a migração de muitos talentos para regimes de trabalho por obra ou para plataformas de streaming — usou de ironia para expressar que nem mesmo o custo de manter o padrão de imagem que sempre carregou se compara mais aos valores de antes.

“Quem é rainha nunca perde a majestade”, completou Susana, referindo-se à sua longevidade e relevância na mídia. A fala revela, ao mesmo tempo, resistência e adaptação a um mercado que não reconhece mais o valor do passado com cheques generosos e contratos a prazo indeterminado.

Esse desabafo reacende velhas discussões sobre o futuro da teledramaturgia tradicional no Brasil. A TV Globo, referencial absoluto nas últimas décadas — para o bem e para o mal —, vive uma fase de reestruturação: reduções em elencos, revogação de contratos permanentes, migração de produções para novas linguagens, tempos curtos de exibição e crescente concorrência de serviços de streaming. Em meio a esse cenário, quem permanece ligado ao formato clássico convive com incertezas financeiras.

Susana Vieira é um retrato vivo dessa transição. A atriz conviveu por anos com contratos volumosos que garantiam não só cachês estáveis, mas também renda mesmo na entressafra de novelas. Agora, diante da diminuição de seu salário, ela expõe de forma pública a precarização de um padrão que já foi sinônimo de estabilidade.

A repercussão imediata foi intensa. Nas redes sociais, fãs manifestaram apoio à veterana, lembrando os trabalhos que marcaram gerações. Especialistas da área interpretaram o desabafo como um alerta: não se perde apenas um rosto conhecido, mas o reconhecimento de percursos longos e a valorização de carreiras que se dedicam à televisão por décadas.

Além disso, a declaração de Susana Vieira reacende uma questão fundamental: até que ponto a televisão aberta permanece um espaço de prestígio para quem labuta com consistência e talento? Ou será que agora ela se transformou num ambiente de contratos efêmeros, expostos às oscilações de mercado e num contexto competitivo com outras mídias?

Mesmo diante da queda nos rendimentos, Susana preferiu evitar lamentações públicas extensas. Manteve seu humor mordaz e reafirmou dignidade: “quem é rainha continua rainha”. A frase funciona como síntese de uma geração de atores que, apesar da virada econômica da indústria, não abrirá mão da memória, da presença e da representatividade construída ao longo de décadas.

A revelação da atriz, portanto, vai muito além de um desabafo individual. Ela escancara as transformações urgentes da televisão brasileira — seu modelo, seus valores, seus méritos.

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